15 abril, 2011

Impactos das mudanças climáticas no RJ são inevitáveis

Vulnerabilidade
 
O estudo “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana do Rio de Janeiro” aponta que já não é possível evitar os impactos das alterações do clima na região fluminense e que a sociedade só será capaz de enfrentá-los, sem grandes prejuízos, caso medidas de adaptação e mitigação sejam tomadas imediatamente. Coordenado pelo INPE e pelo Nepo/Unicamp, com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil, esse estudo está sendo apresentado hoje, no RJ, por Sérgio Besserman Vianna e Paulo Gusmão
Débora Spitzcovsky - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 07/04/2011

As noites fluminenses estão muito mais quentes, a quantidade e a intensidade das chuvas no Estado do Rio de Janeiro aumentaram consideravelmente e, de acordo com o estudo Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana do Rio de Janeiro, apresentado hoje, no Palácio da Cidade, para a imprensa, especialistas e autoridades do RJ, não se trata de uma "maré de azar passageira": o agravamento das mudanças climáticas está deixando as cidades da região metropolitana desse estado cada vez mais vulneráveis aos problemas ambientais e a tendência é esse cenário piorar.

Assim, nos próximos dez ou, no máximo, trinta anos, as mais de 11,5 milhões de pessoas que moram nos municípios metropolitanos do Rio de Janeiro terão, inevitavelmente, que aprender a conviver com:
- chuvas mais intensas e frequentes;
- temperaturas mais elevadas;
- ondas de calor mais longas e
- aumento do nível do mar.

Mas nenhuma dessas alterações resultará em grandes crises para a população e a infraestrutura das cidades fluminenses, desde que medidas de mitigação e adaptação sejam adotadas o mais rápido possível. "A humanidade tem decisões muito importantes para tomar nesse momento. Está em nossas mãos escolher se o planeta aquecerá 2 ou 6ºC e se os impactos das mudanças climáticas, que já são inevitáveis, serão contornados ou acabarão afetando serviços fundamentais para o bem-estar da população, como esgotamento sanitário, abastecimento e drenagem de água e coleta e tratamento de lixo", explica Sérgio Besserman Vianna, economista, ambientalista e um dos porta-vozes do estudo, realizado e coordenado pelo Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espacial e pelo Nepo - Núcleo de Estudos de População, da Unicamp, com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil. (O estudo focado na cidade de SP foi apresentado em junho de 2010. Confira na reportagem Estudo revela vulnerabilidade de São Paulo)

Segundo ele, para que a população da região metropolitana do Rio de Janeiro - assim como os habitantes de todas as outras cidades do planeta - possa se adaptar bem aos efeitos das alterações climáticas, são necessárias três medidas imediatas:
- produção de conhecimento a respeito do monitoramento, impacto e combate das mudanças climáticas;
- internalização desse conhecimento pelo corpo técnico responsável pela estrutura das cidades, como prefeituras e empresas envolvidas nas obras públicas e
- incentivo à gestão política integrada de todos os municípios da região. "Afinal, a natureza ignora a fronteira física entre a cidade do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias, por exemplo. Ou seja, traçar um planejamento para acabar com o problema em, apenas, um município é jogar dinheiro fora, porque as cidades estão todas interligadas. O problema que afeta uma delas, inevitavelmente, acabará afetando as outras", salienta Besserman.

Paulo Gusmão, doutor em Geografia da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em mudanças climáticas, também é porta-voz do estudo e enfatiza as palavras do economista: "As cidades só conseguirão enfrentar as mudanças climáticas se tiverem atuação local e, também, regional. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o recorte espacial dos municípios não condiz com o das bacias hidrográficas e aéreas e, portanto, a água, o esgoto e o lixo devem ter gestões integradas", explica Gusmão.

No entanto, em sua opinião, estimular a gestão política compartilhada não é tão simples quanto parece: "Os governos já têm dificuldade de enxergar a cidade como um todo - é mais comum vermos a realização de ações em áreas isoladas do que em todo o complexo municipal -, imagine, então, visualizar a interligação entre as cidades! É preciso tempo para que eles se conscientizem. O problema é que não temos tanto tempo assim", salienta Gusmão, que ainda acrescenta que o caso do Rio de Janeiro é ainda mais grave, porque o órgão de gestão metropolitana do Estado foi extinto na segunda metade da década de 80.

QUEM NÃO ESTIVER ADAPTADO ENFRENTARÁ CAOS Segundo o estudo - que contou com a coordenação do climatologista, secretário do MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia) e conselheiro do Planeta Sustentável, Carlos Nobre -, os impactos das mudanças climáticas já são inevitáveis na região metropolitana fluminense e, por isso, apenas adotar medidas de mitigação já não é mais suficiente: é preciso se adaptar à nova realidade climática. "O cenário não é de pânico. Por enquanto, há soluções no campo da engenharia e da tecnologia para todos os impactos que sofreremos, mas, para enfrentá-los, o planejamento é essencial. Daqui para frente, a adaptação deve ser a diretriz de todas as políticas públicas do Rio de Janeiro", pontua Besserman.

Caso isso não aconteça, a cidade poderá sofrer grandes consequências. Entre as citadas pelo estudo estão:
- aumento da incidência dos alagamentos e deslizamentos provocados pelas fortes chuvas;
- dificuldade na captação de água doce de boa qualidade;
- epidemias de doenças como a dengue e a leptospirose, que podem levar à morte;
- aumento do risco de extinção das espécies - sobretudo as que possuem capacidade de locomoção reduzida;
- crescimento no número de espécies invasoras e
- savanização da vegetação.

"É importante lembrar que as pessoas que vivem nas áreas consideradas de maior risco - no caso da região metropolitana do Rio de Janeiro, as que vivem nas zonas costeiras e de encostas - sentirão todos esses impactos muito mais rápido do que quem vive em outras regiões, mas, no final das contas, toda a população sofrerá com o problema", conclui Gusmão.

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