01 fevereiro, 2012

Arquitetos projetam árvore gigante para resgatar biodiversidade em cidades

Arquitetos projetam árvore gigante para resgatar biodiversidade em cidades

Lydia Cintra 23 de janeiro de 2012
Para resgatar a biodiversidade em grandes cidades, o escritório holandês de arquiteturaWaterStudio criou o projeto de uma estrutura de cerca de 30 metros, que imita uma árvore e pode abrigar diversos animais.
Sea Tree poder ser construída em rios, oceanos e lagos e  tem a intenção de atrair pássaros, abelhas, morcegos e outros animais pequenos.
Segundo a empresa que idealizou o projeto, a tecnologia para a construção de uma árvore é semelhante a de uma plataforma de petróleo – as petrolíferas poderiam, inclusive, “doar” uma Sea Tree aos locais onde trabalham, para aproveitar o conhecimento técnico da atividade.
Segundo os arquitetos, a inspiração para a Sea Tree veio de um desafio proposto por ecologistas para a criação de espaços para animais e plantas que as pessoas não pudessematrapalhar. “A água é o jeito perfeito de manter as pessoas distantes”.
O custo da invenção é estimado em 4,5 milhões de dólares.

23 julho, 2011

RESSONÂNCIA SCHUMANN


Para você que se esqueceu que a Mãe Terra está vibrando em ritmo mais acelerado, segue abaixo o texto sobre a RESSONÂNCIA SCHUMANN, que explica porque o dia tem agora 16h e não 24h. Programe-se para vibrar em sintonia com o Coração da Mãe Terra, pois só assim você vai conseguir dar conta da sua agenda pessoal em sintonia com a Agenda Cósmica ...

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Não apenas as pessoas mais idosas, mas também as jovens passam pela experiência de que tudo está se acelerando excessivamente. Ontem foi Carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou tem base real?
Pela ressonância Schumann, se procura dar uma explicação. O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 100km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann), mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsações por segundo.
Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma freqüência de 7,83 hertz.
Empiricamente fez-se a constatação de que não podemos ser saudáveis fora dessa freqüência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas, submetidos à ação de um simulador Schumann, recuperavam o equilíbrio e a saúde. Por vários anos as batidas do coração da Terra tinham essa freqüência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a freqüência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz . Ao invés de 24h, o dia tem 16h .
O coração da Terra disparou. Coincidentemente, desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória,mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann.
Gaia, esse super-organismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar buscando formas de retornar a seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Aqui abre-se espaço para grupos esotéricos e outros futuristas projetarem cenários, ora dramáticos, com catástrofes terríveis, ora esperançosos, como a irrupção da quarta dimensão, pela qual todos seremos mais intuitivos, mais espirituais e mais sintonizados com o biorritmo da Terra.
A tese recorrente entre grandes cientistas e biólogos é de que a Terra, efetivamente, é um super-organismo vivo, de que Terra e humanidade foram feitos para estar sempre em harmonia, como os astronautas testemunham de suas naves espaciais. Nós, seres humanos, precisamos da Terra que nossa casa é, que amamos. Porque? Segundo a teoria de Schumann, possuímos a mesma natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann.


Autor: Leonardo Boff

09 junho, 2011

O que você faz com seu E-Lixo?

Por: Mariana Tavares Carneiro


O E-lixo ou lixo tecnológico, nada mais é do que o lixo eletrônico, como pilhas, peças de computadores, celulares, notebook, baterias, ferro elétrico e outros produtos do gênero.

Esse tipo de lixo representa 5% de todo o produzido pelos seres humanos, e é considerado perigoso por conter elementos tóxicos como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, e por esse motivo deve ser descartado com cuidado.  Existem hoje, empresas que recolhem esse tipo de material, as de telefonia, por exemplo, costumam recolher os aparelhos por ela fabricados. Pilhas e baterias geralmente são recolhidas por departamentos específicos nas prefeituras de cada cidade, mas se na sua cidade não tem, existem associações que aceitam doações desses materiais que para alguns já estão inutilizáveis, como computadores e periféricos para montagem de Centros de Informática.

Dentre os principais recolhedores estão a Oxigênio, CDI (Comitê para Democratização da Informática), ABRE – Associação Brasileira de Distribuição de Excedentes, Centro Espírita Nosso Lar (Casas André Luiz), Hospital Albert Einstein, AACD, Associação PRÓ-HOPE  Apoio a Criança com Câncer e Fundação Dorina Nowill para Cegos.

A reciclagem ou aproveitamento desses materiais ajuda muito na preservação do meio ambiente, pois para produzi-los é usada uma enorme quantidade de recursos naturais, água e energia. Só para a produção de um único laptop, por exemplo, são gastos 50.000,00 litros de água, que equivale à aproximadamente 384 banhos com duração de 15 minutos.

A consciência sobre como evitar os malefícios do e-lixo começa já no ato da compra, é sempre bom analisar o material, aparelhos que contém chumbo na composição não são recomendados, e deve-se preferir marcas em que as próprias empresas ofereçam recolhimento de seu produto no futuro.

Existem inúmeras formas de dar um destino adequado à seu lixo tecnológico, nada de jogá-lo por aí. A doação ajuda na inclusão digital, o reaproveitamento gera economia, e a venda proporciona lucro, mas o resultado que todas essas formas têm em comum é a diminuição do impacto ambiental, que no futuro beneficiará a todos nós.

Dicas para reduzir a produção de e-lixo:
  • Você trocou de celular, computador ou algum outro equipamento eletrônico e não sabe o que fazer com o antigo? Muita calma! Não vá jogue nada no lixo. Veja se o equipamento antigo ainda tem alguma utilidade para as suas necessidades pessoais e profissionais;
  • Em caso negativo, somente doe o equipamento para alguém que você sabe que vai usá-lo;
  • No momento da compra, prefira máquinas com várias funções. Um aparelho pode substituir dois ou três;
  • Dê preferência aos produtos que consomem menos energia;
  • Não compre produtos de origem duvidosa, sem garantia e responsabilidade sócio-ambiental. O barato, muitas vezes, sai muito caro;
  • Procure saber se o fabricante do eletrônico possui certificação da série ISO 14.000;
  • Se não for usar o seu equipamento eletrônico, deixe-o desligado. Stand by consome muita energia.
  • Evite imprimir. Além de economizar papel, você aumenta a vida útil do cartucho da impressora e do próprio equipamento;
  • Não misture pilhas novas com pilhas velhas;
  • Leia atentamente as informações das embalagens de produtos eletrônicos;
  • Não guarde as pilhas usadas dentro de casa. Leve–as para um posto de coleta. O vazamento de baterias pode causar danos à saúde.

15 maio, 2011

Relação entre homem e ambiente é tema de série

Com cenas gravadas também no Brasil e narração do cantor e compositor Milton Nascimento, a série que será lançada pelo Discovery Channel, na próxima semana, direciona o foco para nós, seres humanos: os mais complexos elementos da biosfera

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Mônica Nunes/Ana Luíza Vastag
Planeta Sustentável - 28/04/2011



Relação entre homem e ambiente é tema de série
Com cenas gravadas também no Brasil e narração do cantor e compositor Milton Nascimento, a série que será lançada pelo Discovery Channel, na próxima semana, direciona o foco para nós, seres humanos: os mais complexos elementos da biosfera
Mônica Nunes/Ana Luíza Vastag
Planeta Sustentável - 28/04/2011

Na quinta-feira, dia 12/05, às 22h, os telespectadores do Discovery Channel e do Discovery HD Theater terão acesso a um retrato fascinante de nossa condição humana com a estreia de "Planeta Humano", superprodução que documenta o momento evolutivo do homem e suas formas de sobrevivência nos mais distintos habitats do planeta.

Cada um dos oito episódios da série é narrado ao público brasileiro pelo cantor e compositor mineiro Milton Nascimento e documenta a relação entre o homem e seu ambiente em localidades com características muito particulares: oceanos, montanhas, florestas, savanas, rios, Ártico, desertos e grandes centros urbanos. Em cada um desses ambientes, a série destaca indivíduos, comunidades e tradições, para mostrar como as pessoas de cada região conseguem enfrentar os desafios de seu cotidiano particular.



Assista abaixo ao trailler da série:


25 abril, 2011

Passageiros clandestinos (Água de lastro)

Os porões de 100 mil navios cargueiros são uma ameaça à biodiversidade

O tráfego naval é outro fator que está levando a biodiversidade marinha à ruína. Noventa por cento das mercadorias comercializadas entre os países são transportadas por navios. A frota mundial de cargueiros chega a quase 100 mil. Para os nossos padrões rodoviários, até que não é muito: é um
quinto dos carros que deixam São Paulo rumo ao litoral num feriado prolongado. Além disso, os
grandes cargueiros não despejam na atmosfera nem metade do dióxido de carbono que os caminhões de nossas estradas. Mas, então, por que os navios são tão ruins? Porque seu impacto ambiental não se mede só pela poluição que ele gera mas pela quantidade de vida que carrega.

A flotilha de cargueiros do planeta transporta, além de seus contêineres, algo entre 7 mil e 10 mil
espécies de criaturas marinhas todos os dias. Algumas viajam grudadas no casco, enquanto outras
vão nadando nos 10 bilhões de toneladas de água de lastro levadas nos porões dos navios. Estima-se que, a cada 9 semanas, uma dessas espécies se instala de vez em um ecossistema novo. E se dá muito bem por lá – o que causa uma confusão dos infernos na comunidade local.

Uma das conseqüências dessas viagens clandestinas teriam sido as 10 mil mortes por cólera na
América do Sul – os primeiros casos da doença aconteceram na região dos portos, e os vibriões
podem ter viajado pela água de lastro vinda de áreas endêmicas. Nos EUA, o problema é o mexilhão-
zebra, originário de lagos da Rússia e que infestou 40% das vias navegáveis internas do país. O bicho se reproduz vertiginosamente e se incrusta em tudo o que é superfície dura – de cabos de internet submersos a pontes –, contamina tubulações de água potável e entope filtros dos sistemas de arrefecimento industriais. E gerou gastos com medidas de controle de até US$ 1 bilhão entre 1989 e 2000. Os animais marinhos também sofrem: no mar Negro, a água-viva filtradora Mnemiopsis leidyi se espalhou assustadoramente, comendo os estoques de plâncton e matando de fome crustáceos e peixes.

Você deve estar se perguntando por que os navios precisam carregar essas criaturas. Funciona assim: quando um cargueiro sai vazio ou meio cheio do porto, ele tem que armazenar água do mar em tanques, para ter a mesma estabilidade (o chamado lastro) de quando está com carga completa. Chegando ao porto de destino, ele esvazia os tanques enquanto carrega as mercadorias. E essa água vem misturada a areia, pedras, mexilhões, plâncton, peixes, bactérias, vírus. Toda a turma cabe lá dentro porque quase toda espécie marinha tem em seu ciclo de vida uma fase planctônica, em que é minúscula.

Em 2004, uma convenção internacional da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) estabeleceu parâmetros de gerenciamento das águas de lastro para cargueiros. Apesar de ainda não ter entrado em vigor, já induziu leis nacionais, como no Brasil, a exigir a troca da água de lastro em alto-mar (evitando a invasão nas regiões costeiras). Sistemas de filtração conseguem impedir a entrada de organismos maiores nos tanques de lastro, alguns tratamentos de aquecimento da água ou supersaturação de gás podem matar boa parte dos organismos ali dentro – mas não vírus, bactérias e protozoários. Enfim, não existe um método totalmente eficaz de eliminação dos invasores. E nem há o que fazer contra mexilhões e larvas que se prendem ao casco dos barcos.

Enquanto isso, a indústria naval promete dobrar sua frota até 2025. Os navios vão promover uma globalização que vai além de uniformizar as marcas nas prateleiras dos supermercados: a globalização dos ecossistemas submersos.

20 abril, 2011

Água Virtual

Breve pesquisa na internet vai mostrar que o Brasil é o 10.º exportador mundial de "água virtual", num comércio que movimenta cerca de 1,2 trilhão de litros do precioso líquido, disfarçado nas mercadorias, sendo 67% desse volume relacionados com a venda de produtos agrícolas. Atraente, mas discutível, o cálculo desse fetiche ecológico esconde um perigo, disfarçado por pressupostos, estimativas e arbitragens que o distanciam da matemática, uma ciência exata



Proteger os recursos hídricos do planeta está virando uma grande batalha ambiental. Ainda bem. Rios poluídos, nascentes secando, consumo perdulário indicam crise na chamada agenda azul. Água é vida.

Cresce a consciência da sociedade sobre a importância da água. Na Europa, especialmente na Espanha e em Portugal, o assunto tornou-se quase uma obsessão. Territórios desertificados, fruto da secular, e insensata, exploração humana da natureza, exigem extrema atenção das políticas públicas. É difícil, e oneroso, recuperar florestas, protetoras da água.

As mudanças de clima trazem novo, e desastroso, componente na oferta hídrica para a humanidade. Muitas nações, com a Índia, dependem das geleiras das montanhas para garantir seu pleno fornecimento hídrico. E elas estão derretendo a olhos vistos. Que o diga o Himalaia.

No Brasil, a gestão dos recursos hídricos se fortalece, mas caminha lentamente. Avançam a proteção dos mananciais e a recuperação da biodiversidade, nas matas ciliares especialmente, mas o passo está curto diante da urgência do problema.

Poucos Estados, São Paulo à frente, fazem realmente funcionar seus comitês de bacia hidrográfica. A Agência Nacional de Águas (ANA), criada no governo de Fernando Henrique Cardoso, perdeu serventia após ser politizada nos esquemas petistas. Uma lástima.

A dramaticidade do tema favoreceu o surgimento de um novo conceito: o da "água virtual". Ele expressa uma contabilidade básica, qual seja, a de determinar a quantidade de água exigida no processo de fabricação de um produto. Isso avalia um custo ambiental.

Uma caneta ou um avião nada apresentam, visivelmente, de úmido. Entretanto, qualquer mercadoria para ser fabricada demanda certo consumo de água, em alguma fase da cadeia produtiva. Na indústria, as caldeiras movem-se pelo vapor, as quais acionam máquinas, derretem metais, moldam plásticos. Móveis inexistiriam sem a seiva das árvores, alimentadas pelas raízes no solo molhado. Por aí segue o raciocínio.

Calculando a quantidade de água necessária, ou melhor, consumida na elaboração dos bens, pode-se comparar a eficiência dos processos produtivos. Vale na indústria como na agricultura, visando à economia do recurso natural. Mais ainda: no comércio internacional, transfere-se água embutida nas mercadorias, elemento que poderia entrar no preço das exportações e importações. A rica teoria encanta ecologistas mundo afora.

Breve pesquisa na internet vai mostrar que o Brasil é o 10.º exportador mundial de "água virtual", num comércio que movimenta cerca de 1,2 trilhão de litros do precioso líquido, disfarçado nas mercadorias, sendo 67% desse volume relacionados com a venda de produtos agrícolas. Essa é a grandeza planetária da equação.

Números específicos chamam a atenção. Eles indicam que um quilo de carne bovina necessita de 15.500 litros de água para chegar à mesa; um quilo de arroz vale 3 mil litros; uma xícara de café se iguala a 140 litros de água. Surpreende a precisão. Segundo a organização The Nature Conservancy (TNC), uma importante entidade ambientalista, não necessários 10.777 litros de água para fazer uma porção de chocolate, enquanto um carro exige 147.971 litros para ser construído. Conclusão: evite sobremesas e ande de bicicleta para ajudar o equilíbrio da Terra.

Atraente, mas discutível. O cálculo desse fetiche ecológico esconde um perigo, disfarçado por pressupostos, estimativas e arbitragens que o distanciam da matemática, uma ciência exata. Na linguagem popular, chuta-se muito. O grande problema reside na estimativa da quantidade de água embutida nos alimentos. Invariavelmente uma brutal deformação pune a agricultura. Veja o porquê.

Vamos pegar o caso da carne. A conta acima da "água virtual", além do consumo na limpeza das instalações em máquinas, na ração do cocho, na silagem, etc., considera também a quantidade de água que o bicho bebe para ajudar a digestão e viver tranquilo. Acontece que um boi ingere pelo menos 30 litros/dia de água. Ao final de três anos, quando será abatido, terá engolido 32.850 litros apenas para matar a sede.

Preste atenção: incluir tal consumo na conta da "água virtual" somente estaria correto se o boi, ou sua senhora vaca, não fizessem xixi! Acontece que a urina dos animais, do homem inclusive, participa do ciclo da água na natureza, matéria elementar lecionada na quarta série do ensino fundamental. Na escola as crianças aprendem que a água assume formas variadas - gasosa, sólida e líquida - no sistema ecológico do planeta. Assim, recicla-se naturalmente.

Paradoxalmente, o ciclo da água, um dos conceitos fundamentais da ecologia, acabou esquecido pelos proponentes da "água virtual". Um absurdo científico. Dizer que um cafezinho exige 140 litros de água para ser produzido considera o volume de água absorvido pelas raízes da planta, esquecendo simplesmente a evapotranspiração que ocorre em suas folhas, sem a qual inexistiria a fotossíntese. Vale para qualquer alimento.

Em 22 de março se comemora o Dia Mundial da Água. Data para profunda reflexão. A crise ambiental do planeta afeta dramaticamente os recursos hídricos, afetando milhões de pessoas. Essa bandeira ambiental não pode ser desmoralizada por equívocos banais.

É totalmente distinto gastar água nos processos fabris, ou no resfriamento de reatores atômicos, de utilizá-la nos processos biológicos vitais. Igualá-los significa cometer erro crasso, estimulando um festival de bobagens que, no fundo, serve apenas para agredir o mundo rural. E livrar a barra dos setores urbano-industriais.

Na Páscoa coma chocolate sem culpa ambiental. Cuidado, isso sim, com a balança.

*Xico Graziano, agrônomo e consultor, foi secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, na seção Espaço Aberto

19 abril, 2011

FRANCISCO: ÍCONE DE UMA ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICA

FRANCISCO: ÍCONE DE UMA ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICA

É difícil haver alguém que discorde da urgência da questão ecológica. No entanto, é igualmente difícil acreditar que o quadro atual do aquecimento global vai mudar somente com a divulgação de relatórios científicos e chamadas ecológicas nos intervalos comerciais de televisão. Muito mais necessário é o surgimento de uma verdadeira espiritualidade ecológica, entendendo-se por espiritualidade uma motivação que atinja a totalidade das dimensões humanas.
Neste sentido, um grande exemplo que o ocidente conheceu e que a própria Igreja pode propor como modelo de vida integrada por uma espiritualidade cósmica é a figura de São Francisco de Assis.

O irmão de Assis rejeitou um modelo religioso apartado das criaturas. Ao ser-lhe proposto uma das regras monásticas já consagradas (de Bento ou de Agostinho), Francisco insistiu que queria ser “um novo louco no mundo”. Ao contrário, viveu a alegria de estar entre homens, dos maiores aos menores, também animais, pedras, rios, plantas. Nada para ele poderia ser obstáculo para o encontro com o Altíssimo, mas recebia o caráter de sacramento: toda criatura tinha o rastro do Criador, tudo carrega a beleza e a bondade pelo simples fato de existir.

São Boaventura, na biografia que escreveu sobre São Francisco, fala sobre essa intuição: “Repleto também de piedade mais copiosa pela consideração da origem de todas as coisas, chamava as criaturas, por mais pequeninas que fossem, com os nomes de irmão e de irmã, pelo fato de que sabia que elas tinham com ele um único princípio”. (Legenda Maior VIII, 6).

Francisco, portanto, viveu um re-encantamento da natureza, capaz de intuir muito além de uma dominação utilitária. As criaturas têm uma dimensão sagrada por constituírem pegadas do Sumo Bem. Os bens naturais são irmãos e irmãs nossos.

O segredo de São Francisco não está somente em ser irmão, mas em acrescentar o adjetivo “menor” em sua fraternidade. Não quer ser um irmão mais velho, herdeiro e dominador. Quer ser um irmãozinho, irmão menor.
A confraternização de Francisco com todas as coisas passava pelos leprosos, pelos bispos e malfeitores, pelos esquecidos e pecadores, pelos príncipes e ladrões, como também pela natureza e cada criatura particularmente. Concretamente “ser menor” significa deixar que o outro seja. Amar todas as criaturas pelo que elas são em si mesmas.

Por isso os biógrafos de São Francisco podem relatar a proibição aos seus frades de cortar as árvores pela raiz, na esperança de brotarem novamente. Contam também que o santo mandava os hortelãos deixarem um canto para as ervas daninhas e que cultivassem um canteiro de flores e ervas aromáticas.

Outra característica da espiritualidade fraternal de Francisco está no modo de vida pobre. A virtude da pobreza é fundamental para a preservação do planeta: não se apropriar de nada, mas reconhecer o valor de cada criatura. Deixar que as coisas sejam, renunciando submeter os bens naturais aos interesses do lucro, da satisfação própria, da propriedade privada, da exploração, da injustiça, do pecado. Segundo Leonardo Boff,

A posse cria obstáculos à comunicação entre as pessoas e com a natureza, porque pela posse dizemos sempre ‘isto é meu’, ‘aquilo é teu’ e assim nos dividimos. Ela representa os inter-esses humanos, vale dizer, aquilo que se inter-põe entre as pessoas e a natureza. Quanto mais radical, mais a pobreza aproxima o ser humano da realidade nua e crua; mais lhe permite uma experiência global de comunhão sem distância, no respeito e na reverência da alteridade e da diferença. A fraternidade universal resulta desta prática de pobreza essencial. Não colocar obstáculos entre nós e todas as coisas (inter-esse).
[1]

Poverello, amplia os horizontes do eu numa grande irmanação cósmica. O seu cântico do irmão sol, síntese de mística e poesia, foi composto quando Francisco estava cego, sofrendo fortes dores corporais, dois anos antes da sua morte. Nessa poesia, haverá um espaço para louvar a reconciliação que concretamente se realizou entre o prefeito e o bispo de Assis, e ainda para uma fraternidade radical, que reconhece a própria morte como irmã. É esse mesmo cântico que Francisco pede para os seus frades entoarem com ele no seu leito de morte:
Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção
Somente a ti, ó Altíssimo, eles convém,
e homem algum é digno de mencionar-te.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão sol,
o qual é dia, e por ele nos iluminas.
E ele é belo e radiante com grande esplendor,
de ti, Altíssimo, traz o significado.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,
no céu as formaste claras preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo tempo,
pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
que é muito útil e humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
pelo qual iluminas a noite
e ele é belo e agradável e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe terra
que nos sustenta e governa
e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo teu amor,
e suportam enfermidade e tribulação.
Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz
porque por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal,
da qual nenhum homem vivente pode escapar.
Ai daqueles que morrerem em pecado mortal:
bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade,
porque a morte segunda não lhes fará mal.
Louvai e bendizei o meu Senhor
e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.


Portanto, em São Francisco, encontramos não só uma ecologia exterior, mas uma ecologia interior, que reconcilia e festeja o Criador e as criaturas, o masculino e o feminino, os seres humanos entre si e com a morte. Sem essa ecologia interior o planeta ameaçado vai continuar sendo apenas uma notícia alarmante, uma conseqüência daquilo que os outros fizeram e nunca um grito que nos afete. Sem afeto, envolvimento, não poderemos salvar nossa casa, a mãe terra.

E se o mesmo ocidente, que tanto destruiu e criou sistemas injustificáveis conseguiu gerar uma personalidade tão fraterna e universal como São Francisco, significa que não é impossível uma mudança de rumos, precedida por uma mudança paradigmática da dominação para a irmanação cósmica.

[1] BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres: Dignitas Terrae. São Paulo: Atica, 1995. p 327.
* A imagem reproduzida é um detalhe dos afrescos de Giotto na Basílica de Sao Francisco em Assis

18 abril, 2011

Meio Ambiente e Espiritualidade - Leonardo Boff

ECOLOGIA E ESPIRITUALlDADE ECOLOGIA E ESPIRITUALlDADE

A Carta da Terra, um dos documentos éticos mais consistentes dos últimos anos e já assumido peta Unesco representa a nova consciência ecológica da Humanidade, O texto abre com estas palavras dramáticas:
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar uma aliança global para cuidar da Te"a e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.

Esse alarme não é infundado, pois nas últimas décadas temos construído o principio da autodestruição. A máquina de morte das armas nucleares, químicas e biológicas é de tal destrutividade que somente com uma porcentagem delas podemos danificar substancialmente a biosfera e abortar o projeto humano. Como espécie Homo sapíens et demens - temos ocupado já 83% do planeta, explorando para nosso proveito quase todos os recursos naturais. A voracidade é tal, que temos depredado os ecossistemas a ponto de a Terra ter superado já em 20% sua capacidade de suporte e regeneração. Mais ainda, fizemo-nos reféns de um modelo civilizatório depredador e consumista que, se universalizado, demandaria três planetas semelhantes ao nosso. Evidentemente isso é impossível, o que comprova a falta completa de sustentabilidade de nosso modo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Não são poucos os analistas do estado da Terra que advertem: ou mudamos de padrão de relacionamento com a Terra ou vamos ao encontro do pior.

A URGÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE NA CRISE ATUAL
É nesse contexto dramático que surge a urgência da espiritualidade. 8a possui um valor em si, independentemente das conjunturas históricas, como essa descrita acima. Mas, atualmente, em situação de alto risco, parcamente conscientizado pela maioria dos seres humanos, ela é invocada urgentemente, pois representa uma das fontes secretas de um novo modo de ser que nos poderá salvar. Por que, exatamente, a espiritualidade? Porque em seu seio, normalmente, irrompem os grandes sonhos para cima e para frente, sonhos que podem inspirar práticas salvacionistas. Notáveis antropólogos, como Claude Lévi-Strauss e C. Geertz, têm afirmado que quando um paradigma civilizatório entra em crise, quando as estrelas-guias se obnubilam e o horizonte de esperança de um povo perde sua capacidade de gerar sentido, emerge, irreprimivelmente, a espiritual idade. É o que ocorre hoje, praticamente, em todas as culturas e no mundo inteiro.
Que significa aqui a espiritualidade? Sem detalharmos a resposta que surgirá logo a seguir, espiritualidade é uma nova experiência do ser, o irromper de um novo sonho, o vislumbrar de uma outra ordem, capaz de ordenar o caos que se instalou. Trata-se aqui de uma experiência de sentido novo, e não de um saber codificado. Tudo o que tem a ver com a experiência profunda do ser humano, com seu mergulhar nas raízes últimas da realidade, antes que esta se organize em ordem e sistema, em saber e instituição, constitui o campo da experiência do espírito, donde vem espiritualidade. Espírito representa a força criadora e ordenadora presente no ser humano, a capacidade de rasgar sentidos novos a partir das virtualidades presentes na própria realidade. Desta experiência espiritual nascem os paradigmas civilizacionais, capazes de fazer outra história e suscitar esperança às comunidades humanas e às pessoas.
Normalmente, a espiritualidade encontra seu nicho natural no seio das religiões. Elas nascem da experiência espiritual do fundador, do profeta e do carismático. No seio delas se elaboram as grandes utopias da Humanidade, visões de um sentido que transcende a fugacidade dos tempos e alcança a transcendência e a eternidade. Em épocas de crise, constituem elas o húmus fértil de novas perspectivas. São elas que permitem a passagem de um paradigma a outro, mantendo o continuum da história humana.
Mas a espiritualidade não configura monopólio das religiões, embora sejam o campo privilegiado de sua emergência e expressão. A espiritual idade representa uma dimensão do profundo humano. Ela pertence estruturalmente ao ser humano com o mesmo direito de cidadania como o poder, a sexualidade, a racionalidade e o enternecimento Por isso ela emerge nas pessoas mesmo que estas não tenham nenhuma inscrição religiosa definida. Esta espiritualidade antropológica deverá ser evocada quando abordarmos o tema da espiritualidade e da ecologia.
Por fim, há de se superar o antropocentrismo, tão visceral em nossa cultura. A espiritualidade se dá nas religiões e em cada ser humano, mas ela vai além, se encontra também na própria estrutura do universo. O espírito está em nós porque, anteriormente, está no universo, do qual somos parte e parcela. A Carta da Terra alude a isso quando se refere ao nosso "parentesco com toda a vida" e ao "mistério da existência", em face do qual cabe nossa "reverência, humildade e gratidão”.
Em nossa exposição obedeceremos à seguinte estratégia: em primeiro lugar, consideraremos a contribuição da espiritualidade de fundo religioso para a preservação ecológica; em segundo lugar, nos acercaremos da espiritualidade antropológica e seu significado para a ecologia; e, por fim, a espiritualidade cósmica como derradeira atitude de benevolência e comunhão com toda a realidade.

A ESPIRITUALIDADE RELIGIOSA: O MUNDO É SACRAMENTO
As religiões todas vêem a realidade sub specíe aetemítatís (na perspectiva da eternidade), vale dizer, na ótica de Deus. Deus é experienciado como a Fonte originária de todo o ser. Ele é experienciado como criador, provedor e sustentador do céu e da terra e de tudo o que eles contêm. Ao criar, ele deixou marcas de seu gesto divino em todas as coisas. Todas são seus filhos e filhas. Ele não se deixa ver diretamente. Mas transparece em tudo que saiu dele. Por isso o universo, as estrelas, a imensa diversidade dos seres, especialmente os vivos e entre eles os seres humanos, comparecem como sacramentos de Deus. Vale dizer, são sinais de sua inefável presença e instrumentos de sua atuação no mundo. Ele não tem senão nossos braços para mover o mundo humano.
Para a pessoa religiosa, tudo vem perpassado de energias divinas, como o testemunham tão bem as religiões afro-brasileiras entre outras. Em face delas, se impõem a reverência, o respeito e a devoção. Deus está presente no mundo e o mundo em Deus, sem distância e mediação. É o que a teologia cristã chama de panenteísmo e que outras tradições conhecem por termos equivalentes. Mas importa não confundir panenteísmo com panteísmo. No panteísmo, tudo, indiferenciadamente, é Deus: os objetos, as montanhas, cada pessoa. No panenteísmo se mantém a diferença irredutível (um é Criador e o outro é criatura), mas se acentua a mútua presença e a interpenetração.
Na teologia cristã se prolonga esta intuição com a fé na encarnação de Deus. Ele assumiu o ser humano e, através dele, de alguma forma, todas as coisas. Elas começam a pertencer a Deus. Deus se faz ser humano para que ó ser humano junto com todo o universo se faça Deus. Tal evento confere uma dignidade inaudita a cada criatura, pois comparece corno lugar onde Deus mesmo pode ser encontrado.
Diz-se também que o Espírito penetrou a criação, vitalizando-a e conduzindo-a rumo a sua culminância bem-aventurada, quando explodirá e implodirá para dentro de Deus. Uma antiga tradição transmitida pelos místicos da Igreja Ortodoxa grega diz: "O Espírito dorme na pedra, sonha na flor, acorda nos animais e sabe que está acordado nos seres humanos." Ele é o Spírítus Creator
Esta é a compreensão dos professantes da fé cristã. Isso, entretanto, não é ainda espiritualidade, mas doutrina. A espiritualidade surge quando a doutrina deixa de ser doutrina e passa a ser experiência interior, quando passa do intelecto para o coração. Então ela se transforma em comoção e celebração Não basta dizer que todos os seres são filhos e filhas de Deus. Para fazer surgir a espiritualidade, importa sentir essa verdade, abraçar a cada ser, cuidar dele como se cuida de um ente querido. Foi o que vivenciou Francisco de Assis com sua mística cósmica. Abraçando o mundo, ele estava abraçando Deus e vendo-o na lesma do caminho, no irmão Sol e na água cristalina. .
Essa experiência é carregada de conseqüências ecológicas. Precisamos de reverência e cuidado em face de cada ser. Aí descobrimos a fraternidade e a sonoridade universais. Só assim pomos limites à nossa voracidade e regressamos à comunidade terrenal e cósmica da qual nos exilamos.

ESPIRITUALlDADE ANTROPOLÓGICA: O PONTO DEUS
O ser humano possui, em primeiro lugar, exterioridade expressa pelo corpo. Mediante ele, somos parte do universo, compostos com os mesmos elementos físico-químicos que as estrelas, e nos fazemos presentes uns aos outros. Em segundo lugar, o ser humano possui também interioridade expressa pela nossa psique. É o universo de desejos, emoções, imagens poderosas, arquétipos, idéias, visões de mundo que estão dentro de nós. Ao captarmos pelos sentidos corporais e espirituais ou pela intuição as coisas, elas são internalizadas e se transformam em imagens e símbolos. Elas falam e nós podemos captar sua mensagem. A montanha não é apenas montanha. Ela nos evoca majestade. O mar encapelado não é apenas mar. Ele nos faz entender o que é a violência indomável. Os olhos de uma criança não são apenas olhos. Eles revelam o mistério e a profundidade da vida. A pessoa amada, já o dizia Freud, é sempre também a pessoa imaginada, idealizada e transfigurada.            .
Nós não existimos senão que coexistimos, sempre junto com outros seres com os quais mantemos relações de troca e de inter-retro-dependência. Nosso eu não fica recluso em si mesmo, mas ele é habitado pela casa que habitamos, pela rua familiar em que moramos, pela cidade natal em que vivemos, pelo local de trabalho onde exercemos nossa profissão, pelos animais domésticos, pelas paisagens inesquecíveis de nossa história pessoal, pela pátria que amamos e pela Terra, a única Casa Comum que temos para habitar. Essas realidades não são meros fatos, são valores, o mundo das excelências. Sem eles morre ríamos de esterilidade e de solidão.
O ser humano possui também profundidade. Só ele coloca questões terminais, sempre presentes na agenda humana: de onde viemos, para onde vamos, que estamos fazendo aqui no mundo, que podemos esperar depois desta vida, por que sofremos com a traição do amigo e choramos tanto com a morte da pessoa querida? O que se esconde por detrás das estrelas? Qual é o fio condutor que tudo sustenta e faz com que o universo não caia sobre nossas cabeças, mas surja como harmonia sutil que encantou os salmistas como Davi e fascinou cientistas como Einstein? Por que o ser humano é perpassado por uma ânsia infinita de felicidade e de vida sem fim? Ele identificou na evolução cósmica aquele Vazio fecundo, aquele Estado de energia insondável de fundo, do qual tudo promana, a presença do Mistério que cerca todas as coisas, que as culturas humanas chamaram de Deus. Com Ele pode se relacionar na oração, que é um dialogar e intercambiar amorosamente com Deus. Pode entregar-se à meditação pela qual escuta o que Ele tem a dizer. Quando tais eventos bem-aventurados surgem, aparece aquilo que é a dimensão do profundo do ser humano, aquilo que chamamos espírito. Especialmente aparece o espírito quando na nossa consciência nos sentimos parte e parcela do Todo que nos desborda. E quando emerge em nós a responsabilidade pelo mundo ao nosso derredor, damo-nos conta de que podemos ser o Satã da Terra, bem como seu anjo bom e protetor. Somos chamados a ser o jardineiro que cuida e completa a obra deixada incompleta por Deus. É então que irrompe em nós a dimensão ética, de cuidado e responsabilização pelas coisas ao nosso redor. Espiritualidade consiste em cultivar esse espaço de profundidade, em enriquecer o centro de nós mesmos, em alimentar a dimensão do espírito com a amorosidade. a solidariedade, a compaixão, o perdão e o cuidado para com todas as coisas. Por tais valores e atitudes se revela o espírito e se urde a espiritualidade. Quando vivemos esta espiritualidade nos sentimos engrandecidos.e.nos descobrimos como projeto infinito. Somente o Infinito pode saciar nossa fome infinita.
Pesquisas recentíssimas, do final do século 20, feitas por neuropsicólogos (Michael Persinger e V. S. Ramachandran), por neurologistas (Wolf Singer. por neurolingüistas (Terrance Deacon) e por técnicos em magnetoencefalografia, detectaram o que foi chamado o "ponto Deus" no cérebro. Sempre que se abordam as questões espirituais elencadas acima verifica-se empiricamente uma excitação nos lobos frontais do cérebro. Esses lobos frontais estão ligados ao cérebro límbico, o centro das emoções e dos valores. Isso significa que a percepção do "ponto Deus" está vinculada não a uma idéia, mas a um fator emocional e experiencial, como dizíamos, à espiritualidade. Esse "ponto Deus" surgiu no processo cosmogênico e antropogênico para atender a um propósito evolutivo: captar e conscientizar, através do ser humano, a presença de Deus na dinâmica universal e em cada coisa. É no ser humano que irrompe esta consciência de Deus e do Sagrado. É nele que se elabora a espiritualidade. Em razão disso, afirmam estudiosos como a física quântica Danah Zohar e o psiquiatra lan Marshall que nos seres humanos não vigora apenas a inteligência intelectual e a inteligência emocional, mas também a inteligência espiritual.
Transformando esse dado objetivo, a inteligência espiritual, em projeto consciente, reforçamos a espiritualidade como dimensão central de uma vida aberta, sensível, atenta às múltiplas dimensões do humano. Esta espiritualidade nos leva a cuidar da vida em rodas as suas formas porque vemos nelas excelência e valor. Tudo que existe merece existir. Tudo que vive merece viver. Ela nos ajuda a superar a perigosa lógica do interesse, dominante hoje, pela qual dominamos e nos apropriamos das coisas para o nosso uso e desfrute. Ela nos facilita a darmos lugar à lógica da convivência, da cordialidade, da reverência em face da" alteridade e da comunhão com todas as coisas e com Deus. A integração da inteligência espiritual às outras duas formas de inteligência (a intelectual e a emocional) nos abre à comunhão amorosa com todas as coisas, numa atmosfera de respeito e de reverência para com os demais seres, a maioria deles muito mais ancestrais que nós, acolhidos como companheiros e companheiras na grande aventura terrenal e cósmica.

O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE E ESPIRITUAL
Nas reflexões da moderna cosmologia e física quântica (como em David Bohm, lIya Prigogine, Danah Zohar, Brian Swimme, A Goswami e o!Jtros) se sustenta a tese segundo a qual a consciência e o espírito são fenômenos quânticos, que emergem do transfundo das infinitas virtualidades da Fonte alimentadora de tudo (vácuo quântico). Assim como nosso ser físico surgiu no processo cosmogênico, assim também nosso ser espiritual. Ambos são tão ancestrais como o universo. Por espírito se entende a capacidade das energias primordiais e da própria matéria de interagirem entre si, de se autocriarem (autopoiese), de se auto-organizarem, de se constituírem em sistemas abertos, de se comunicarem e formarem teias cada vez mais complexas de inter-retro-relações que sustentam o inteiro universo. O espírito é fundamentalmente relação, interação e auto-organização em distintos níveis de realização. Desde o primeiríssimo momento da explosão primordial criaram-se relações e interações, gestando unidades ainda rudimentares (dois quarks e prótons) que foram se organizando de forma sempre mais complexa. Era a alvorada do espírito. O universo é cheio de espírito porque é reativo, pan-relacional e criativo, Nesse sentido não há seres inertes, à diferença de outros setes, chamados vivos. Todos participam, em seu grau, do espírito, da consciência e da vida. A diferença entre o espírito de uma montanha e o espírito humano não é de princípio, mas de grau. O princípio de interação e criação se realiza em ambos, apenas de forma diferente. O espírito humano é esse espírito cósmico que chega à autoconsciência, à fala e à comunicação consciente. O espírito que perpassa todas as coisas ganha uma concretização especial nos homens e nas mulheres.
Se o espírito é vida e relação, então o seu oposto não é matéria, mas morte, ausência de relação. A matéria é um campo altamente carregado de energia e de interações. Espiritualidade, neste contexto, é a potenciação máxima da vida, é compromisso com a proteção e expansão da vida. Não apenas da vida humana, mas da vida em toda a sua incomensurável diversidade e em todas as suas fases de realização.
Vivenciar o universo como vivente, a Terra corno Gaia, superorganismo vivo e Grande Mãe, sentir a natureza como fonte de irradiação vital e comungar com cada ser que encontramos como portador de propósito, irmão e irmã de aventura nesse imenso universo, é mostrar -se um ser espiritual, é realizar a espiritualidade ecológica em grau eminente, hoje absolutamente necessário à sobrevivência da biosfera.
O futuro da Terra como um planeta pequeno e limitado, da Humanidade que não para de aumentar, dos ecossistemas fatigados pelo excessivo estresse do processo industrialista, das pessoas humanas, confusas, perdidas, espiritualmente embotadas mas ansiosas por formas de vida mais simples, transparentes, autênticas e cheias de sentido, esse futuro depende de nossa capacidade de desenvolvermos ou não uma espiritualidade ecológica. Não basta sermos apenas racionais e religiosos. Mais que tudo, temos que ser sensíveis uns aos outros, cooperativos em todas as nossas atividades, respeitadores dos demais seres da natureza; numa palavra, devemos ser espirituais. Só então irradiaremos como seres responsáveis e benevolentes com todas as formas de vida, amantes de nossa Mãe Terra e veneradores da única Fonte donde promana todo ser e toda bem-aventurança.

A Carta da Terra, um dos documentos éticos mais consistentes dos últimos anos e já assumido peta Unesco representa a nova consciência ecológica da Humanidade, O texto abre com estas palavras dramáticas:
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar uma aliança global para cuidar da Te"a e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida.

Esse alarme não é infundado, pois nas últimas décadas temos construído o principio da autodestruição. A máquina de morte das armas nucleares, químicas e biológicas é de tal destrutividade que somente com uma porcentagem delas podemos danificar substancialmente a biosfera e abortar o projeto humano. Como espécie Homo sapíens et demens - temos ocupado já 83% do planeta, explorando para nosso proveito quase todos os recursos naturais. A voracidade é tal, que temos depredado os ecossistemas a ponto de a Terra ter superado já em 20% sua capacidade de suporte e regeneração. Mais ainda, fizemo-nos reféns de um modelo civilizatório depredador e consumista que, se universalizado, demandaria três planetas semelhantes ao nosso. Evidentemente isso é impossível, o que comprova a falta completa de sustentabilidade de nosso modo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Não são poucos os analistas do estado da Terra que advertem: ou mudamos de padrão de relacionamento com a Terra ou vamos ao encontro do pior.

A URGÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE NA CRISE ATUAL
É nesse contexto dramático que surge a urgência da espiritualidade. 8a possui um valor em si, independentemente das conjunturas históricas, como essa descrita acima. Mas, atualmente, em situação de alto risco, parcamente conscientizado pela maioria dos seres humanos, ela é invocada urgentemente, pois representa uma das fontes secretas de um novo modo de ser que nos poderá salvar. Por que, exatamente, a espiritualidade? Porque em seu seio, normalmente, irrompem os grandes sonhos para cima e para frente, sonhos que podem inspirar práticas salvacionistas. Notáveis antropólogos, como Claude Lévi-Strauss e C. Geertz, têm afirmado que quando um paradigma civilizatório entra em crise, quando as estrelas-guias se obnubilam e o horizonte de esperança de um povo perde sua capacidade de gerar sentido, emerge, irreprimivelmente, a espiritual idade. É o que ocorre hoje, praticamente, em todas as culturas e no mundo inteiro.
Que significa aqui a espiritualidade? Sem detalharmos a resposta que surgirá logo a seguir, espiritualidade é uma nova experiência do ser, o irromper de um novo sonho, o vislumbrar de uma outra ordem, capaz de ordenar o caos que se instalou. Trata-se aqui de uma experiência de sentido novo, e não de um saber codificado. Tudo o que tem a ver com a experiência profunda do ser humano, com seu mergulhar nas raízes últimas da realidade, antes que esta se organize em ordem e sistema, em saber e instituição, constitui o campo da experiência do espírito, donde vem espiritualidade. Espírito representa a força criadora e ordenadora presente no ser humano, a capacidade de rasgar sentidos novos a partir das virtualidades presentes na própria realidade. Desta experiência espiritual nascem os paradigmas civilizacionais, capazes de fazer outra história e suscitar esperança às comunidades humanas e às pessoas.
Normalmente, a espiritualidade encontra seu nicho natural no seio das religiões. Elas nascem da experiência espiritual do fundador, do profeta e do carismático. No seio delas se elaboram as grandes utopias da Humanidade, visões de um sentido que transcende a fugacidade dos tempos e alcança a transcendência e a eternidade. Em épocas de crise, constituem elas o húmus fértil de novas perspectivas. São elas que permitem a passagem de um paradigma a outro, mantendo o continuum da história humana.
Mas a espiritualidade não configura monopólio das religiões, embora sejam o campo privilegiado de sua emergência e expressão. A espiritual idade representa uma dimensão do profundo humano. Ela pertence estruturalmente ao ser humano com o mesmo direito de cidadania como o poder, a sexualidade, a racionalidade e o enternecimento Por isso ela emerge nas pessoas mesmo que estas não tenham nenhuma inscrição religiosa definida. Esta espiritualidade antropológica deverá ser evocada quando abordarmos o tema da espiritualidade e da ecologia.
Por fim, há de se superar o antropocentrismo, tão visceral em nossa cultura. A espiritualidade se dá nas religiões e em cada ser humano, mas ela vai além, se encontra também na própria estrutura do universo. O espírito está em nós porque, anteriormente, está no universo, do qual somos parte e parcela. A Carta da Terra alude a isso quando se refere ao nosso "parentesco com toda a vida" e ao "mistério da existência", em face do qual cabe nossa "reverência, humildade e gratidão”.
Em nossa exposição obedeceremos à seguinte estratégia: em primeiro lugar, consideraremos a contribuição da espiritualidade de fundo religioso para a preservação ecológica; em segundo lugar, nos acercaremos da espiritualidade antropológica e seu significado para a ecologia; e, por fim, a espiritualidade cósmica como derradeira atitude de benevolência e comunhão com toda a realidade.

A ESPIRITUALIDADE RELIGIOSA: O MUNDO É SACRAMENTO
As religiões todas vêem a realidade sub specíe aetemítatís (na perspectiva da eternidade), vale dizer, na ótica de Deus. Deus é experienciado como a Fonte originária de todo o ser. Ele é experienciado como criador, provedor e sustentador do céu e da terra e de tudo o que eles contêm. Ao criar, ele deixou marcas de seu gesto divino em todas as coisas. Todas são seus filhos e filhas. Ele não se deixa ver diretamente. Mas transparece em tudo que saiu dele. Por isso o universo, as estrelas, a imensa diversidade dos seres, especialmente os vivos e entre eles os seres humanos, comparecem como sacramentos de Deus. Vale dizer, são sinais de sua inefável presença e instrumentos de sua atuação no mundo. Ele não tem senão nossos braços para mover o mundo humano.
Para a pessoa religiosa, tudo vem perpassado de energias divinas, como o testemunham tão bem as religiões afro-brasileiras entre outras. Em face delas, se impõem a reverência, o respeito e a devoção. Deus está presente no mundo e o mundo em Deus, sem distância e mediação. É o que a teologia cristã chama de panenteísmo e que outras tradições conhecem por termos equivalentes. Mas importa não confundir panenteísmo com panteísmo. No panteísmo, tudo, indiferenciadamente, é Deus: os objetos, as montanhas, cada pessoa. No panenteísmo se mantém a diferença irredutível (um é Criador e o outro é criatura), mas se acentua a mútua presença e a interpenetração.
Na teologia cristã se prolonga esta intuição com a fé na encarnação de Deus. Ele assumiu o ser humano e, através dele, de alguma forma, todas as coisas. Elas começam a pertencer a Deus. Deus se faz ser humano para que ó ser humano junto com todo o universo se faça Deus. Tal evento confere uma dignidade inaudita a cada criatura, pois comparece corno lugar onde Deus mesmo pode ser encontrado.
Diz-se também que o Espírito penetrou a criação, vitalizando-a e conduzindo-a rumo a sua culminância bem-aventurada, quando explodirá e implodirá para dentro de Deus. Uma antiga tradição transmitida pelos místicos da Igreja Ortodoxa grega diz: "O Espírito dorme na pedra, sonha na flor, acorda nos animais e sabe que está acordado nos seres humanos." Ele é o Spírítus Creator
Esta é a compreensão dos professantes da fé cristã. Isso, entretanto, não é ainda espiritualidade, mas doutrina. A espiritualidade surge quando a doutrina deixa de ser doutrina e passa a ser experiência interior, quando passa do intelecto para o coração. Então ela se transforma em comoção e celebração Não basta dizer que todos os seres são filhos e filhas de Deus. Para fazer surgir a espiritualidade, importa sentir essa verdade, abraçar a cada ser, cuidar dele como se cuida de um ente querido. Foi o que vivenciou Francisco de Assis com sua mística cósmica. Abraçando o mundo, ele estava abraçando Deus e vendo-o na lesma do caminho, no irmão Sol e na água cristalina. .
Essa experiência é carregada de conseqüências ecológicas. Precisamos de reverência e cuidado em face de cada ser. Aí descobrimos a fraternidade e a sonoridade universais. Só assim pomos limites à nossa voracidade e regressamos à comunidade terrenal e cósmica da qual nos exilamos.

ESPIRITUALlDADE ANTROPOLÓGICA: O PONTO DEUS
O ser humano possui, em primeiro lugar, exterioridade expressa pelo corpo. Mediante ele, somos parte do universo, compostos com os mesmos elementos físico-químicos que as estrelas, e nos fazemos presentes uns aos outros. Em segundo lugar, o ser humano possui também interioridade expressa pela nossa psique. É o universo de desejos, emoções, imagens poderosas, arquétipos, idéias, visões de mundo que estão dentro de nós. Ao captarmos pelos sentidos corporais e espirituais ou pela intuição as coisas, elas são internalizadas e se transformam em imagens e símbolos. Elas falam e nós podemos captar sua mensagem. A montanha não é apenas montanha. Ela nos evoca majestade. O mar encapelado não é apenas mar. Ele nos faz entender o que é a violência indomável. Os olhos de uma criança não são apenas olhos. Eles revelam o mistério e a profundidade da vida. A pessoa amada, já o dizia Freud, é sempre também a pessoa imaginada, idealizada e transfigurada.            .
Nós não existimos senão que coexistimos, sempre junto com outros seres com os quais mantemos relações de troca e de inter-retro-dependência. Nosso eu não fica recluso em si mesmo, mas ele é habitado pela casa que habitamos, pela rua familiar em que moramos, pela cidade natal em que vivemos, pelo local de trabalho onde exercemos nossa profissão, pelos animais domésticos, pelas paisagens inesquecíveis de nossa história pessoal, pela pátria que amamos e pela Terra, a única Casa Comum que temos para habitar. Essas realidades não são meros fatos, são valores, o mundo das excelências. Sem eles morre ríamos de esterilidade e de solidão.
O ser humano possui também profundidade. Só ele coloca questões terminais, sempre presentes na agenda humana: de onde viemos, para onde vamos, que estamos fazendo aqui no mundo, que podemos esperar depois desta vida, por que sofremos com a traição do amigo e choramos tanto com a morte da pessoa querida? O que se esconde por detrás das estrelas? Qual é o fio condutor que tudo sustenta e faz com que o universo não caia sobre nossas cabeças, mas surja como harmonia sutil que encantou os salmistas como Davi e fascinou cientistas como Einstein? Por que o ser humano é perpassado por uma ânsia infinita de felicidade e de vida sem fim? Ele identificou na evolução cósmica aquele Vazio fecundo, aquele Estado de energia insondável de fundo, do qual tudo promana, a presença do Mistério que cerca todas as coisas, que as culturas humanas chamaram de Deus. Com Ele pode se relacionar na oração, que é um dialogar e intercambiar amorosamente com Deus. Pode entregar-se à meditação pela qual escuta o que Ele tem a dizer. Quando tais eventos bem-aventurados surgem, aparece aquilo que é a dimensão do profundo do ser humano, aquilo que chamamos espírito. Especialmente aparece o espírito quando na nossa consciência nos sentimos parte e parcela do Todo que nos desborda. E quando emerge em nós a responsabilidade pelo mundo ao nosso derredor, damo-nos conta de que podemos ser o Satã da Terra, bem como seu anjo bom e protetor. Somos chamados a ser o jardineiro que cuida e completa a obra deixada incompleta por Deus. É então que irrompe em nós a dimensão ética, de cuidado e responsabilização pelas coisas ao nosso redor. Espiritualidade consiste em cultivar esse espaço de profundidade, em enriquecer o centro de nós mesmos, em alimentar a dimensão do espírito com a amorosidade. a solidariedade, a compaixão, o perdão e o cuidado para com todas as coisas. Por tais valores e atitudes se revela o espírito e se urde a espiritualidade. Quando vivemos esta espiritualidade nos sentimos engrandecidos.e.nos descobrimos como projeto infinito. Somente o Infinito pode saciar nossa fome infinita.
Pesquisas recentíssimas, do final do século 20, feitas por neuropsicólogos (Michael Persinger e V. S. Ramachandran), por neurologistas (Wolf Singer. por neurolingüistas (Terrance Deacon) e por técnicos em magnetoencefalografia, detectaram o que foi chamado o "ponto Deus" no cérebro. Sempre que se abordam as questões espirituais elencadas acima verifica-se empiricamente uma excitação nos lobos frontais do cérebro. Esses lobos frontais estão ligados ao cérebro límbico, o centro das emoções e dos valores. Isso significa que a percepção do "ponto Deus" está vinculada não a uma idéia, mas a um fator emocional e experiencial, como dizíamos, à espiritualidade. Esse "ponto Deus" surgiu no processo cosmogênico e antropogênico para atender a um propósito evolutivo: captar e conscientizar, através do ser humano, a presença de Deus na dinâmica universal e em cada coisa. É no ser humano que irrompe esta consciência de Deus e do Sagrado. É nele que se elabora a espiritualidade. Em razão disso, afirmam estudiosos como a física quântica Danah Zohar e o psiquiatra lan Marshall que nos seres humanos não vigora apenas a inteligência intelectual e a inteligência emocional, mas também a inteligência espiritual.
Transformando esse dado objetivo, a inteligência espiritual, em projeto consciente, reforçamos a espiritualidade como dimensão central de uma vida aberta, sensível, atenta às múltiplas dimensões do humano. Esta espiritualidade nos leva a cuidar da vida em rodas as suas formas porque vemos nelas excelência e valor. Tudo que existe merece existir. Tudo que vive merece viver. Ela nos ajuda a superar a perigosa lógica do interesse, dominante hoje, pela qual dominamos e nos apropriamos das coisas para o nosso uso e desfrute. Ela nos facilita a darmos lugar à lógica da convivência, da cordialidade, da reverência em face da" alteridade e da comunhão com todas as coisas e com Deus. A integração da inteligência espiritual às outras duas formas de inteligência (a intelectual e a emocional) nos abre à comunhão amorosa com todas as coisas, numa atmosfera de respeito e de reverência para com os demais seres, a maioria deles muito mais ancestrais que nós, acolhidos como companheiros e companheiras na grande aventura terrenal e cósmica.

O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE E ESPIRITUAL
Nas reflexões da moderna cosmologia e física quântica (como em David Bohm, lIya Prigogine, Danah Zohar, Brian Swimme, A Goswami e o!Jtros) se sustenta a tese segundo a qual a consciência e o espírito são fenômenos quânticos, que emergem do transfundo das infinitas virtualidades da Fonte alimentadora de tudo (vácuo quântico). Assim como nosso ser físico surgiu no processo cosmogênico, assim também nosso ser espiritual. Ambos são tão ancestrais como o universo. Por espírito se entende a capacidade das energias primordiais e da própria matéria de interagirem entre si, de se autocriarem (autopoiese), de se auto-organizarem, de se constituírem em sistemas abertos, de se comunicarem e formarem teias cada vez mais complexas de inter-retro-relações que sustentam o inteiro universo. O espírito é fundamentalmente relação, interação e auto-organização em distintos níveis de realização. Desde o primeiríssimo momento da explosão primordial criaram-se relações e interações, gestando unidades ainda rudimentares (dois quarks e prótons) que foram se organizando de forma sempre mais complexa. Era a alvorada do espírito. O universo é cheio de espírito porque é reativo, pan-relacional e criativo, Nesse sentido não há seres inertes, à diferença de outros setes, chamados vivos. Todos participam, em seu grau, do espírito, da consciência e da vida. A diferença entre o espírito de uma montanha e o espírito humano não é de princípio, mas de grau. O princípio de interação e criação se realiza em ambos, apenas de forma diferente. O espírito humano é esse espírito cósmico que chega à autoconsciência, à fala e à comunicação consciente. O espírito que perpassa todas as coisas ganha uma concretização especial nos homens e nas mulheres.
Se o espírito é vida e relação, então o seu oposto não é matéria, mas morte, ausência de relação. A matéria é um campo altamente carregado de energia e de interações. Espiritualidade, neste contexto, é a potenciação máxima da vida, é compromisso com a proteção e expansão da vida. Não apenas da vida humana, mas da vida em toda a sua incomensurável diversidade e em todas as suas fases de realização.
Vivenciar o universo como vivente, a Terra corno Gaia, superorganismo vivo e Grande Mãe, sentir a natureza como fonte de irradiação vital e comungar com cada ser que encontramos como portador de propósito, irmão e irmã de aventura nesse imenso universo, é mostrar -se um ser espiritual, é realizar a espiritualidade ecológica em grau eminente, hoje absolutamente necessário à sobrevivência da biosfera.
O futuro da Terra como um planeta pequeno e limitado, da Humanidade que não para de aumentar, dos ecossistemas fatigados pelo excessivo estresse do processo industrialista, das pessoas humanas, confusas, perdidas, espiritualmente embotadas mas ansiosas por formas de vida mais simples, transparentes, autênticas e cheias de sentido, esse futuro depende de nossa capacidade de desenvolvermos ou não uma espiritualidade ecológica. Não basta sermos apenas racionais e religiosos. Mais que tudo, temos que ser sensíveis uns aos outros, cooperativos em todas as nossas atividades, respeitadores dos demais seres da natureza; numa palavra, devemos ser espirituais. Só então irradiaremos como seres responsáveis e benevolentes com todas as formas de vida, amantes de nossa Mãe Terra e veneradores da única Fonte donde promana todo ser e toda bem-aventurança.